Preços de Transferência na mineração: o que revela o relatório da CEPAL

dezembro 1, 2025

A mineração — especialmente de cobre e lítio — constitui um dos pilares das economias andinas. No entanto, quando as operações de mineração são realizadas por grupos empresariais multinacionais, os mecanismos de fixação de preços internos (preços de transferência) podem afetar seriamente a arrecadação fiscal dos países produtores. Esse é precisamente o ponto central do recente relatório da CEPAL, que analisa como esses mecanismos são aplicados e como deveriam ser aplicados na Argentina, no Chile e no Peru.  

O que são preços de transferência e por que são importantes? 

Os “preços de transferência” são os preços acordados entre empresas vinculadas dentro de um mesmo grupo multinacional, por exemplo, entre uma filial mineradora que extrai o mineral e outra que presta serviços de comercialização, transformação, serviços, financiamento ou outras funções. 

Quando essas empresas atuam de forma independente, os preços devem ser estabelecidos “em condições de plena concorrência” (market-based). Mas, em um contexto de relações intragrupo, esses preços podem ser manipulados para transferir lucros para jurisdições com menor carga tributária — reduzindo a base tributária no país produtor, o que implica perda de arrecadação estatal. 

Na mineração, isso adquire especial relevância: a cadeia de valor inclui várias etapas — extração, processamento, transporte, exportação, financiamento, serviços, etc. — todas potenciais pontos de fixação de preços intragrupo. 

Particularidades do setor de mineração: por que os preços de transferência são especialmente críticos 

De acordo com a CEPAL, a mineração tem características que a tornam especialmente vulnerável a abusos nos preços de transferência: 

  • A complexidade da cadeia de valor da mineração (extração, concentração, transformação, exportação, financiamento, serviços, seguros, etc.). 
  • A heterogeneidade dos processos: minerais como o cobre e o lítio podem passar por diferentes etapas e transformações antes de sua venda final, o que amplia as oportunidades para acordar preços internos desalinhados do valor de mercado. 
  • Presença de entidades relacionadas em jurisdições de baixa tributação, o que facilita esquemas de subfaturamento ou sobrecustos artificiais em transações intragrupo. 
  • Asimetrias de informação, uma vez que a administração tributária muitas vezes não dispõe do mesmo nível de informação técnica que a empresa sobre qualidade, conteúdo mineral e condições comerciais reais. 

Resultados da análise comparativa: lacunas normativas e riscos fiscais 

O relatório analisa os quadros normativos da Argentina, Chile e Peru, comparando-os com os padrões internacionais (principalmente os referidos pela OCDE e pelo manual das Nações Unidas para países em desenvolvimento). 

Algumas conclusões: 

  • Embora os três países tenham normas de preços de transferência, existem diferenças substanciais na sua aplicação: na definição de partes relacionadas, mecanismos de ajuste, requisitos documentais, controles de fiscalização, exigência de comparabilidade, etc. 
  • Essas lacunas normativas e de supervisão representam um risco concreto: permitem que empresas mineradoras estruturem operações intragrupo que resultam em subdeclaração de preços (subfaturamento), com o objetivo de transferir lucros para fora do país produtor. 
  • Consequentemente, os países analisados podem estar perdendo uma parte significativa da receita tributária que, se devidamente reconhecida, poderia financiar investimentos públicos, desenvolvimento sustentável ou compensar externalidades ambientais. 

Estimativas da CEPAL: a transferência de lucros em cobre e lítio 

Uma das seções mais reveladoras do relatório apresenta estimativas da possível “transferência de lucros” — ou seja, quanto valor econômico real poderia ser evadido ou transferido para fora da jurisdição fiscal legítima por meio de preços de transferência manipulados. 

Para concentrados de cobre, cátodos e carbonato de lítio — produtos representativos da mineração de cobre e lítio — a análise identifica diferenças entre os preços implícitos relatados pelas empresas e os preços de referência de mercado. Essas diferenças permitem inferir subvalorizações nas exportações, o que sugere um aproveitamento indevido de mecanismos intragrupo. 

Embora o relatório não apresente um valor absoluto generalizável (devido a variações por empresa, tipo de mineral, período e estrutura das operações), ele alerta que o fenômeno é suficientemente sistemático para exigir atenção regulatória urgente. 

Recomendações para um quadro normativo e fiscal mais robusto 

Para prevenir abusos e garantir uma tributação justa que reflita o valor real gerado na mineração, a CEPAL sugere: 

  • Alinhar as regulamentações locais com padrões internacionais reconhecidos, garantindo que definições como “partes relacionadas”, “plena concorrência” e “métodos de avaliação” sejam consistentes e exigíveis. 
  • Promover maior cooperação internacional e regional, para evitar que as empresas transfiram lucros para jurisdições de baixa tributação e garantir uma distribuição equitativa da carga tributária.  
  • Reforçar os requisitos documentais e de comparabilidade que as empresas devem cumprir para justificar seus preços intragrupo — especialmente nas indústrias de mineração, onde a complexidade das operações exige um alto nível de transparência. 
  • Implementar mecanismos eficazes de supervisão, auditoria e troca de informações entre jurisdições (incluindo a exigência de “relatórios país por país”, análise de “lucros distribuídos”, verificação de funções, riscos e ativos, etc.). 
  • Considerar ajustes específicos para transações típicas da mineração — como venda de concentrados, transformação, exportação, serviços intragrupo, financiamento e seguros —, uma vez que esses processos apresentam alto risco de manipulação. 

Conclusão 

O relatório da CEPAL sobre preços de transferência na mineração de cobre e lítio na Argentina, Chile e Peru evidencia um problema estrutural: a possibilidade de manipulação em operações intragrupo que afeta a equidade fiscal e a arrecadação dos países produtores. Ao mesmo tempo, aponta um caminho para uma regulamentação mais robusta e alinhada com os padrões internacionais. 

No TPC Group, reconhecemos a importância dessas descobertas para o desenvolvimento de políticas tributárias mais sólidas e para a adoção de práticas empresariais responsáveis. Nossa análise reafirma a necessidade de fortalecer a conformidade, otimizar a documentação de preços de transferência e garantir que as transações intragrupo reflitam o valor real gerado em cada etapa da cadeia de mineração. Com base em nossa experiência, esse tipo de estudo fortalece nosso compromisso em fornecer consultoria técnica especializada, baseada em evidências e orientada para promover operações transparentes e sustentáveis no âmbito transfronteiriço. 

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Fonte: CEPAL

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